30 de dezembro de 2008

Holocausto no dos outros é refresco

No apagar das luzes deste ano, a matança sionista continua. De onde vem a fúria genocida dos judeus? Talvez o judeu Freud dissesse - é o retorno do reprimido.


Revolta da vacina

Escuto no rádio convite para vacinação das pessoas "que vão viajar para áreas consideradas perigosas". Haveria locais na rodoviária e no aeroporto para a vacinação das pessoas contra várias doenças, como febre amarela e outras. Lacuna gritante: quais são os lugares de risco, está havendo epidemia em algum lugar? Isso ninguém disse. Não bastou gente morrer no verão passado com a vacina da febre amarela, a imprensa compra barato a notícia que nem existe.
Distribuição compulsória da mercadoria: esse é um mercado de sonho para qualquer um!

23 de dezembro de 2008

Bimbalham os sinos!

Nesta época festiva, de congraçamento entre os seres humanos (?), quando por toda parte bimbalham os sinos, custa um certo esforço fazer a pergunta: celebramos bem o que, no afinalmente das contas? Estaremos promovendo uma réplica de antigas celebrações do solstício de inverno, base de tantos cultos e ritos, noites mágicas e místicas... do hemisfério norte? Nós, os antípodas, devemos celebrar o natal talvez em junho.

Nada disso, um coro clama, celebramos a vinda do Salvador, o deus feito homem em humilde manjedoura, que redimiu toda a humanidade. Bem, aí é outra coisa; celebremos então o natal, mas o que é que faz em toda parte esse velho viciado em xarope de coca?

22 de dezembro de 2008

Meteorológica

céu
cai
no chão:
Verão

17 de dezembro de 2008

Prumo

Análise técnica de acontecimentos recentes - a respeito de Satyagraha


http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11688

12 de dezembro de 2008

Campeão da Galáxia

Depois de vencer pela sexta vez o campeonato brasileiro, nós, são-paulinos, estamos que nem podemos, já sendo três vezes campeões do mundo. Estamos de olho no campeonato da galáxia já, que o mundo está ficando pequeno.

E o futebol também é literatura, os melhores times são aqueles que a gente nem viu. Hoje em dia, quem viu jogar Garrincha, Pelé, Didi já tem certa idade. Bem poucos viram Zizinho, Heleno de Freitas ou Leônidas; do tempo de Friedenreich, um ou outro raríssimo macróbio. Mas a gente gosta de imaginar; por exemplo, eu acho que o time da Copa de 1938 deve ter sido fantástico; naquele tempo meu pai era criança de calças curtas. E então formam-se as lendas; Domingos da Guia, o Divino Mestre, até os epítetos vêm, como em Homero. E então a súmula do jogo que se dane, o negócio continua na imaginação.

Em homenagem ao melhor time do mundo, a escalação do São Paulo com os craques de todos os tempos. O técnico desse time, nem precisava dizer, seria Telê Santana.
Roberto Rojas
De Sordi

Dario Pereyra
Bauer
Leonardo
Toninho Cerezo
Gérson
Müller
Leônidas
Friedenreich
Canhoteiro

PS: jogando botão com meu sobrinho, que por obra & graça de NSJC torce pelo SPFC, sempre escalei os times de botão com os maiores de todos os tempos, ao que minha sogra dizia que estavam baixando os espíritos.
PS 2 - Por coincidência, fico sabendo que hoje é aniversário de título mundial do São Paulo, veja: http://ferozesfc.blogspot.com/2008/12/h-15-anos-zetti-leonardo-muller-e-cia.html

11 de dezembro de 2008

Esconjuro


(...) and shake the yoke of unauspicious stars from our worldweary flesh

Entre nós



"Em 2010 não estou mais aqui", diz Serra, em ato falho - Da Agência Estado, de 9/12




Nosso excelso governador aparece nos jornais avisando que, ao fim do mandato, não estará mais aqui. Concluem apressadamente que deseja estar em Brasília, atribuem a frase à ambição. Nada mais falso. Apenas o Grifo percebe tratar-se de rasgo profético; o governador prevê que, em 2010, já não estará entre nós, passará a outro plano de existência, deixará o vale de lágrimas abotoando um paletó de madeira.


Sabido que o sobredito é um exemplo de vampiro, será que encontrou finalmente a cura para a maldição que há séculos o persegue? Ou terá um Van Helsing em seus calcanhares?


imagem: arte povera

10 de dezembro de 2008

Aspirações

(Soube notícias desse mesmo eu que segue
dando às vezes seus tropeços, soluçando seus velhos desejos)

Hei de receber minha herança de areia

Hei de encontrar meu destino desterro

Hei de errar por atalhos estreitos


Ou

Sentir correr o ribeiro que passa em nosso quintal

Ver nascer o sol e nosso filho crescer à sombra das árvores que o vento fala

Minha alma em silêncio, sem despojos, sem desejos

dos cadernos do Rei do Hei Hei Hei

3 de dezembro de 2008

Hipocrisia

O Grifo descreu da lei moral e achou que cada um por si e todo mundo mete a mão era uma verdade incontornável.
Então caiu-lhe na cabeça grosso calhamaço de Kant. Estatelado, entre estrelas, leu nas páginas entreabertas:

"Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre e simultaneamente como fim e nunca apenas como meio."

"Nada mais longe da realidade", pensou o Grifo. Depois chegou à conclusão de coubera a ele conviver com a humanidade mais degradada. Observou que, mesmo se fosse o caso, raras vezes alguém manipulava a outros como instrumentos de forma aberta, declarada, mesmo os cínicos. Ocorreu-lhe então outra frase, pois a ocasião parecia ser das citações: "A hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude."

1 de dezembro de 2008

Ainda que tarde...

Descobri agorinha que um tal concurso de contos promovido pelo Estadão em homenagem à Bossa Nova já saiu faz tempo, concluo que evidentemente não fui premiado (ai as injustiças!) com a publicação no jornal.
Quem pensar em O Barril de Amontillado sem ler essa advertência ganha uma garrafa de conhaque Dreher. Honorável Alice Ruiz: justo você, Berenice? Segue o texto que eu tinha mandado.

Brigas nunca mais

Chega. Chega desse negócio. Tá resolvido, tá acabado. Tá tudo acabado.
Mas Dorinha, teimosa; mulher, você às vezes sabe ser difícil. Dora, minha senhora, lembra como eu dizia, e você se ria toda, se balançava assim no vento, de um jeito que não sei até hoje, sempre me escapou.
Dora me escapou, não queria mais nada comigo. Soube logo que ia voltar. Em nossa casa, essas paredes esperavam você.
Virou outra Dora que eu desconhecia; séria, disse que podíamos muito bem ser amigos, próximos. Adivinhei, era isso que você queria. Mas precisava agir com cuidado, como o gato com o passarinho. Minha vontade assustava, você de perceber refugava, arisca. Um dia esse negócio acabava; íamos voltar, eu e você, aqui nesse terraço à beira mar.
Foi natural, quase; encontrei Dora no calçadão, Terça de Carnaval, bonita manhã. Amigos que se encontram, bom te ver, normal. Mostrei mesmo certo desinteresse na conversa; no meio do papo, mencionei de passagem a doença do gato cinzento que ficara comigo, testemunho da vida que ela fingia ter deixado pra trás.
- Mas tranqüilo, vou pra casa, levar o bicho ao veterinário.
- Onde, disse Dora, nesse feriado onde você vai achar veterinário aberto, só se for aquele carniceiro da rua C...
- Bem, - fingi mais hesitação – qualquer coisa eu ligo, vamos ver...
Não tinha mais jeito, Dorinha não suportou pensar no gato doente, adorava bicho; de jeito nenhum, vou com você, insistia; eu pedia que não, não se incomodasse, ela devia ter o que fazer... Estava feito, viemos a pé, sob o sol quente.
Entramos em casa; ela percorreu os cômodos, foi ao quintal, chamava o gato entre as árvores. O bicho insistia no sumiço. De volta à cozinha, Dora me encontra com um alívio, preparei sua batida de maracujá, muito gelo e rum Montilla. Dissolvera em segredo na bebida Rohypnol e ácido gama-hidroxibutírico. Com um suspiro, sentou-se. Um gole, Dora, a sombra está mais fresca. Conversamos de coisas novas e antigas, da teimosia do gato. Dora sabe rir, o refresco está ótimo, mais um pouco, Dora. O tempo passa, ela olhava para o quintal como quem olha o tempo. Sugeri que descêssemos ao porão, quem sabe o bicho não estava escondido entre tanta coisa velha.
Os pés de Dora falsearam um pouco descendo os degraus de madeira. Vários minutos na escuridão, até os olhos acostumarem. O porão antigo tinha um desvão na parede oposta à escada, sugeri a Dora que sentasse ali, num banco, enquanto eu revirava as quinquilharias acumuladas. Sem falar, Dora aceitou o repouso; ia piorando. Deita um pouco, Dora.
Ia ficando incoerente; era o momento. Deixei-a deitada no banco. Com os tijolos e o cimento depositados ali, comecei a subir a parede; o desvão seria o abrigo de Dora, porto seguro. Quando os tijolos chegaram à altura do banco, Dora já dormia profundamente. Fileira após fileira, a parede subia. Dorme, Dora, e fica aqui comigo. Não quero mais esse negócio de você longe de mim. Chega. Está acabado.
P.S.: O tal concurso exigia que o texto trouxesse a frase "não quero mais esse negócio de você longe de mim".