29 de dezembro de 2022

Morte do Rei

 Com a morte de Edson Arantes do Nascimento, perdemos de repente o Rei Pelé, uma entidade que nos justificava, nos redimia dos nossos muitos erros e tantas limitações. 

Eu mesmo só vi o Pelé jogar pelo Cosmos de Nova Iorque, pela televisão; vi depois de acontecido, claro, os vários lances pelo Santos e pela Seleção, mas não é um jogo que está acontecendo agora. É diferente, a emoção não é a mesma. Mas Pelé pairava como o Rei, o deus do futebol, que ele tenha jogado com as cores do país nos justificava, dava uma função para o absurdo da nossa vida. 

Lembro também que na minha infância alimentei um tipo de ceticismo quase terraplanista, chegando ao seguinte pensamento, que talvez justificasse a minha insuficiência humana diante dos mitos e lendas que enchiam a imaginação: "O super homem não existe, é como o Pelé, todo mundo fala do Pelé, mas quem já viu ele?" - O que mostrava meu desapontamento por suspeitar que os heróis dos quadrinhos não existiam, mas como uma espécie de vingança queria negar a existência do Rei que todos cantavam. O que faz lembrar uma história de Borges em que as narrações e comentários de futebol são totalmente ficcionais, não existem aqueles senhores correndo atrás da bola, uma fantasia de quem  não frequentava estádios, e eu na minha primeira infância de fato não ia a estádios de futebol. Infelizmente.

Depois o Edson foi também um ser humano, teve suas dificuldades como nós, ai daqueles hipócritas que se fartam de acusar embebidos em ressentimento ao Rei do futebol. 

Agora em plena Era de Messi, campeão do mundo, lembrar o testemunho de Gatti, goleiro da seleção argentina, contemporâneo do Rei - ninguém é maior que Pelé. 


30 de novembro de 2022

A gata de atadura

 A gata de atadura quer abrir uma ferida no pescoço a qualquer custo. Tem de vesti-la como múmia para que não abra uma ferida com suas unhas.