Um sujeito de suspensórios e cabelo escorrido na testa, vejamos, calças largas e barriga mais que razoável; este sujeito, alcunhado Ovo Frito, era o centro do universo. De longe, assim parado numa praça da cidade, via as coisas acontecerem à sua volta, espetáculos que se ofereciam.
Sentia que por sua causa tudo se movia, as folhas das árvores e os cães e os carros. Talvez isso lhe desse aquela satisfação bonachona, de mínimos movimentos.
Certo dia, declarou que era um dos justos que sustentam o mundo, e evitam que Alá fulmine a humanidade ímpia; preocupado, levei-o à tenda dos trancendentalistas; os sábios o examinaram e disseram que havia muita chance de ser mesmo verdade. Fiquei transtornado; nunca mais volto a consultar essa sorte de cambistas do além. Ainda me incomoda a noção de que minha existência depende de alguém como o Ovo Frito.
17 de julho de 2008
16 de julho de 2008
O Futuro de uma Ilusão
Artigo interessante no Observatório da Imprensa, questão de fundo no cenário do escândalo atual, o do banco Opportunity (occasio facit furem) (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=494JDB007).
O caráter ficcional do dinheiro vai ficando claro. Dinheiro é uma crença, um pacto mútuo, um símbolo, uma liguagem que se desgasta; um dispositivo útil que ultrapassou sua finalidade, e foi entronizado.
A derrocada da estratégia dos bancos centrais é o plano geral da derrocada menor do banqueiro Daniel Dantas. Ambos são frutos legítimos de uma mesma ordem econômica, pautada na financeirização global, em que o capitalismo perde suas bases na produção, para fincá-las na especulação.
Veja o caso brasileiro: do total da renda nacional, 70% são rendimentos do capital; 30%, apenas, correspondem aos ganhos dos salários, segundo pesquisa anunciada pelo economista nacionalista Márcio Porchman, do IPEA. Claro, 30% dos salários não são suficientes para remunerar 70% do capital. Este, por isso, descola-se da produção para a especulação. Precisa esquentar dinheiro.
A derrocada da estratégia dos bancos centrais é o plano geral da derrocada menor do banqueiro Daniel Dantas. Ambos são frutos legítimos de uma mesma ordem econômica, pautada na financeirização global, em que o capitalismo perde suas bases na produção, para fincá-las na especulação.
Veja o caso brasileiro: do total da renda nacional, 70% são rendimentos do capital; 30%, apenas, correspondem aos ganhos dos salários, segundo pesquisa anunciada pelo economista nacionalista Márcio Porchman, do IPEA. Claro, 30% dos salários não são suficientes para remunerar 70% do capital. Este, por isso, descola-se da produção para a especulação. Precisa esquentar dinheiro.
Infelizmente não entendo de economia, mas a circulação de moeda parece ser como a circulação de palavras, baseadas na crença comum do valor. Bens e trabalho estão hoje perdendo o vínculo com a realidade do dinheiro. O capitalismo financeiro tornou-se independente dos bens reais, das coisas. Parece evidente que haverá uma crise em que o caráter ilusório da moeda há de se revelar.
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mvacker@gmail.com
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16:59
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