29 de novembro de 2007

Estúpido

Grassa estupidez da grossa na cabeça; minhas idéias são minhocas lerdas, cegas, perdidas numa mente estreita. Estupidez, um bloco grosso impenetrável duma cera, uma coisa mais coisa. Troco meus passos certos, teimosos da certeza cega da estupidez. Vou aqui, ali, volto; estúpido, mais ainda, mergulho na ignorância, na indiferença. Não está escuro? Não ligo, bocejo; já vai passar, decerto, e nem penso mais em nada, o que era para pensar mesmo? Pois não, seu estúpido pacóvio e tardo, nem se dê ao trabalho de olhar ao lado, o óbvio já te escapa, quem sabe o nem tanto. Estúpido, um espanto.

21 de novembro de 2007

Forma e substância

Existe forma - , ensinava Blutus, o adestrador, ao Grifo, - e existe a substância, sob a forma, incorporada na forma.

- A forma excorpora a substância?, perguntava o Grifo. Sim, de certa forma; Blutus, o adestrador, ficava meio confuso nessas horas, com as perguntas cândidas do Grifo, mas já não usava o chicote, desde que as garras de seu pupilo haviam crescido.

Para arrematar, o Grifo acrescentou - Será então que o pus é a substância da ferida?

Blutus, o adestrador, saiu, como sempre fazia nessas horas, e foi comer um sanduíche dos que trazia em sua sacola; quando era assim, o Grifo aproveitava para brincar entre as árvores.

7 de novembro de 2007

O pior cão do mundo

Eu tive o pior cão do mundo, era um sujeito impaciente, irritadiço, cheio de manias e achaques, mimado, exigente, espaçoso e muito inteligente. Também era capaz dos olhares mais cheios de sentimento que já vi, além de ter um bafo medonho. Foi nosso companheiro mais próximo por doze anos e lá vai; escutou poucas e boas, e disse outras tantas para nós. Eu amei o Bacharel, nós amamos ele lá em casa, e agora penso nele como uma presença. Essa noite escutei ele latir, acordei.