31 de maio de 2010

Espasmodicção

Enfinalmente, atribulemo-nos uns, outros, vice versa e mútuo modo, encastripulados em insaniacidade espalhasfaltada em planalto, orgulhossada de cimentalicaibros e carrossários estacionados nas avenidas sobrepostas, em contínuo motu mudo, versi viça.

11 de maio de 2010

De Viris Ilustribus

Sempre instrutivo saber.

10 de maio de 2010

O que me alegra numa 2ª de manhã

Segunda feira de manhã, de frio e garoa, dia de pegar trânsito na Av. Ibirapuera e 23 de Maio até a Sé, sair correndo de casa, o que me alegra nessa manhã quase funesta?
Ligar o rádio na CBN e ouvir o locutor anunciar o Grande Guia de Povos José Serra, entrevista ao vivo.
Ah, que alegria. Começa a entrevista e o Serra está cordato, amável, todo adestrado, calminho que parece que tomou Rohypnol. Agora também ele escande as sílabas no final das frases que nem o Alckmim. O adestrador deve ser o mesmo.
Logo o Heródoto pergunta se ele é de esquerda, e o bicho já rosna, quer inverter a pergunta, fica contrariado. Mas acalma. Nos bastidores, alguém dá um biscoito pra ele. Segue a entrevista. Daqui a pouco, perguntam do Banco Central, aí pronto, o homem ficou nervoso, cortou a entrevistadora, e começou a babar e a agredir quem estivesse por perto, uma flor de pessoa desabrochando em sua plenitude.
Isso jogando em casa, numa emissora das "organizações Globo", com jornalistas amistosos. Ah, que alegria! Saí do carro dando risada, durante um ataque de apoplexia do nosso candidato, nosso lá deles, bem entendido.

9 de maio de 2010

Das "Bagatelas", de Lima Barreto

Leia o original, que é muito melhor, na Brasiliana, daquele plutocrata judeu. 

São Paulo e os estrangeiros


Quando, em 1889, o Sr. marechal Deodoro proclamou a República, eu era menino de oito annos.

Embora fosse tenra a edade em que estava, dessa época e de algumas

anteriores eu tinha algumas recordações. Das festas por occasião

da passagem da lei de 13 de maio ainda tenho vivas recordações;

mas da tal historia da proclamação da Republica só me lembro

que as patrulhas andavam, nas ruas, armadas de carabinas e meu

pai foi, alguns djas depois, demittido do logar que tinha.

E e so.

Si alguma cousa eu posso accrescentar a essas reminiscençias

é de que a physionomia da cidade era de estupor e de temor.

Nascendo, como nasceu, dóm esse aspecto de terror, de vio-t

lertcia, ella vae aos poucos accentuando as feições que já trazia no

berço. *

Não quero falar aqui de levantes, de revoltas, de motins, que

são, de todas as coisas violentas da politica, em geral, as mais innocentes

talvez.,

Ha uma outra violência que é constante, seguida, tenaz e não

espasmodica e passageira como as das rebelliões de que falei.

Refiro-me á acção dos plutocratais, da sua influencia seguida,

constante, diurna e nocturna, sobre as leis e sobre os governantes,

em prol do seu insaciável enriquecimento.

A Republica, mais do que o antigo regimen, accentuou esse poder

do dinheiro, sem íreio moral de espécie alguma; e nunca os argentarios

do Brasil se fingiram mais religiosos do que agora e tiveram

da egreja mais apoio.

Em outras épocas, no tempo do nosso império regalista, sceptico

e voltereano, os ricos, mesmo quando senhores de escravos, tinham,

em geral, a concepção de que o poder do dinheiro não era

illimitado e o escrúpulo de consciência de que, para augmentar as

suas fortunas, se devia fazer uma escolha dos meios.

Mas veiu a Republica e o ascendente nella da politica de São

Paulo fez apagar-se toda essa. fraca disciplina moral, esse freio na

consciência dos que possuem fortuna. Todos os meios ficaram sendo

bons para se chegar a ella e augmental-a desmarcadamente.

Protegidos, devido a circumstancias que me escapam, por uma

alta fabulosa no preço da arroba de café, de que, após a Republica,

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os ricaços da Paulicéa se fizeram os principaes productores, puderam

elles melhorar os seus serviços públicos e ostentar, durante algum

tempo, uma magnificência que parecia fortemente estabelecida.

Seguros de que essa gruta alibabesca do café a quarenta mil reis

a arroba não tinha conta em thesouros, trataram de attrair para as

suas lavouras immigrantes, espalhando nos paizes de emigração folhetos

de propaganda em oue o clima do Estado, a facilidade de arranjar

fortuna nelle, as garantias legaies — tudo, emfim. era excellente

e excepcional.

A esperança é forte nos governos, quer aqui, quer na Itália

ou na Hespanha; e desses dois últimos paizes, em chusma, accorreram

famílias inteiras e milhares de indivíduos isolados, em busca

da abastança, que os homens do Estado diziam ser fácil de obter.

A gente que o vem dominando ha cerca de trinta annos ecthiase

de contentamento e até estabeleceu a exclusão, da sua-policia de

gente com sangue negro nas veias.

A producção do café, porém, foi transpondo o limite do consumo

universal e a descer de preço, portanto; e os dogés do Tietê

começaram a encher-se de susto e a inventar palliativos e remédios

de feitiçaria, para evitar a depreciação.

Um dos primeiros lembrados foi a prohibição do plantio de

mais um pé de café que fosse.

Esta sábia disposição legislativa tinha antecedentes em certos

alvarás ou cartas regias do tempo da colônia, nos quaes se prohibiam

certas culturas que fizessem concorrência ás especiarias da índia,

e também o estabelecimento de fabricas de tecidos de lã e mesmo de

officinas de artefactos de ouro para não tirar a freguezia dos do

reino.

Que progresso administrativo !

Os palliativos, porém não deram em nada e um judeu allemão

ou americano inventou a tal .historia da valorisação com que a gente

de S. Paulo taxou mais fortemente os agricultores e favoreceu os

grandes e poderosos, nas suas especulações.

A situação interna principiou a ser horrível, a vida cara, emquanto

os salários eram mais ou menos os mesmos anteriores O

descontentamento se fez e os pobres começaram a ver que, emquanto

elles ficavam mais pobres, os ricos ficavam mais ricos.

Os governantes do Estado, que influiam quasi soberanamente

nas decisões da União, deixaram de fazer a tal propaganda do Estado

no estrangeiro, mas augmentaram a policia, para a qual adquiriram

instructores e mortíferas metralhadoras e deram em excommungar

estrangeiros a que chamam de anarchistas, de inimigos da ordem

social, esquecidos de que andavam antes, a proclamar que a elegância

da sua capita), os seus lambrequins, as suas fanfreluches eram devidas

a elles, sobretudo aos italianos. A influencia dos estrangeiros,

diziam, fez de S. Paulo a única coisa decente do Brasil. E todos a

acceitaram porque os dominadores de S. Paulo sempre se esforçaram

por esconder as dilapidações ou coisas parecidas, convencendo


os seus patrícios de que o Estado, a sua capital, sobretudo, era coisa

nunca vista.

Não havia um casarão burguez com umas columnas ou uns

vitraes baratos, que elles logo não proclamassem aquillo, o castello

de Chenonceaux ou o palácio dos Doges.

Tudo o que havia em S. Paulo não havia em parte alguma do

Brasil. A sua capital era uma cidade européa e a capital artística

do paiz.

Entretanto, a antiga provincia não dava, a não ser o Sr. Ramos

de Azevedo, um grande nome ao paiz em qualquer departamento

de arte.

Não contentes de prodfcmar isto dentro do Estado, começaram

a subvencionar jornaes e escriptores de todo o paiz para espalharem

tão pretenciosas affirmações, que o povo do Estado recebia

como artigos de fé a fazer respeitar o "trust" político que o explorava

ignobilmente. "Vanitas vanitatum"...

Seguros de que a opinião os apoiava, porque tinham feito o

Estado o primeiro do Brasil, os políticos profissionaes de S. Paulo

trataram de abafar as criticas dos estrangeiros descontentes ou com

opiniões avançadas, a todos, emfim, que não se deixavam embair

com a tal historia da capital artística e cidade européa.

Os estrangeiros, agora, já não serviam e elles queriam livrar-se

do incommodo que os forasteiros lhes davam criticando-lhes os actos,

a sua cupidez, o esquecimento dos seus deveres de governantes

para só protegerem os ricaços, os monopolistas, que eram também

estrangeiros, mas não no ponto de vista do governo estadpal, que só

julga assim aquelles que não partilham a opinião de que elle é o

mais sábio do mundo e affirmam que, em vez de estar fazendo a felicidade

geral, está concorrendo para .enriquecer os seus filhos, seus

genros, seus primos, seus netos e afilhados e os plutocratas ávidos.

Trataram logo de se armar de leis que fizessem abafar os

seus gemidos ; uma dellas é a celebre de exportação que não se

coaduna com o espirito da nossa Constituição; que é inconseqüente

com a propaganda feita por nós para attrair estrangeiros, que podem

e-devem fiscalisar as nossas coisas, pois nós os chamamos e

elles suam por ahi. -

, Sem mais querer dizer, podemos af firmar que todo o nosso mal

estar actual, todo o cynismo dos especulado/es com a guerra, inclu-

. sivel Zé Bezerra e Pereira Lima, vêm desse, maléfico espirito de

cupidez de riqueza com que S. Paulo infecciònou o Brasil, tacitamente

admittindo não se dever respeitai qualquer escrúpulo, fosse

dessa ou daquella ordem, para obtel-as, nem mesmo o de levar em

conta o esforço, a dignidade^e o trabalho dos immigrantes, os quaes

só lhe servem quando curvam a cerviz á sua deshumana ambição

chrematistica.

•1917.

7 de maio de 2010

A máquina paródica do Grifo - VII

Entramos. Na penumbra não se via muita coisa; os passos do outro lado da porta cada vez mais distantes. Éramos conduzidos por corredores escuros, de quando em quando ofuscados pelas eventuais janelas que se abriam. Os passos metálicos ecoavam. Havia capotes verdes e bonés militares. Entrevi na penumbra uma pistola na cintura de uma mulher de cabelos presos no topo da cabeça.

O labirinto de corredores nos levou enfim a outro galpão, ampla caverna subterrânea. A luz difusa não vinha de fontes artificiais, vinha do teto, como que permeável. E no entanto eu tinha certeza de que havíamos descido; devíamos estar abaixo do nível do chão.

O Grifo caminhava sobre duas pernas, as asas encolhidas; eu estava curioso; detido, mas nossos guardas pareciam até respeitosos. Quis até ensaiar um sorriso para uma loirinha ajeitada, de uniforme militar – teria eu um fraco por uniformes? Passávamos por estruturas metálicas incompreensíveis, em meio a tubulações que davam voltas e subiam para o teto altíssimo.

Súbito, uma mesa, um homem grisalho sentado diante dela, de óculos de aro fino sobre o nariz; olhou-nos sobre as lentes, com um esboço de sorriso: - Chegaram, afinal!

Havia duas cadeiras, sentamo-nos como se fosse o esperado. A escolta sumira em silêncio.

O homem usava uniforme, com galões e estrelas; magro, nos encarava com olhos grandes, com um quarto de sorriso, que aumentou quando começou a falar, encarando o Grifo inicialmente.

- Então são vocês. Têm idéia do que estão fazendo?



o que acontecerá com nossos heróis?



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1 de maio de 2010

ACTA EST FABULA


Não é estória da carochinha não. É o que vem por aí,  a bordoada sobre o conteúdo distribuído livre e gratuitamente na internet - tudo o que ouvimos, os discos de antigamente que encontramos hoje, e que naquele tempo, do disco de vinil, era impossível encontrar... Não acredito que o ACTA, Tratado Comercial Anti Fasificação, seja bobagem, faz todo sentido. Cada vez mais são importantes, ou seja, valem muito tutu, os ativos intangíveis, marcas e conteúdos, os conceitos são comercializados todo dia. 
Li em algum lugar, e já reproduzi aqui, que o show business é o setor mais importante da economia norte americana. Conceitos. Conteúdos. Bens intangíveis. 
E então? Parece que, no caso de internet, miram o porrete no gargalo, no caso o provedor de acesso que tolera download de propriedade alheia. 
Se eles gostam de marcas e slogans, eu conheço um bom: TODA PROPRIEDADE É ROUBO.