29 de junho de 2009

com endereço

A você, que entrou em minha casa, percorreu seus cantos farejando com caninhos escondidos em sua boca maledicente; a você, que prescrutou com olhos cobiçosos as coisas minhas reunidas com carinho; que lançou mão maldosa sobre objetos inocentes, que lançou palavras mal intencionadas ao sabor do vento de tua insânia; a você, que renegou meu sangue mais de uma vez,
te digo
volta sobre teus passos, se enterre de vez em tua sombra; sempre e agora, o que queres e está diante do teus olhos, será sempre conspurcado pela cobiça lodosa de tua alma; e por isso andarás por aí, sem sossego, desejando sem conseguir, conseguindo só o que pegas por via tortuosa. Longe do bem estarás sempre, em nenhum lugar conhecerás a paz. Tântalo, tonto imbecil, usurpou a boa vontade dos outros.

5 de junho de 2009

A máquina paródica do grifo - III

Sim, o Grifo com certeza possui uma máquina paródica, e a guarda lá longe!




Chegamos a um descampado amplo, de onde se via a cidade ao longe, encimada por uma nuvem permanente de fuligem e gases mefíticos. O Grifo aterrisou no meio do descampado, num mato já alto, e ao longe se viam uma ou outra árvore. Finalmente chegamos em casa, disse animado a besta biforme; logo vamos ver a máquina. Aceita um pouco?, perguntou, enquanto inclinava o pescoço e mordia com vontade uma touceira verdinha. Balbuiciei que não, obrigado; estava conhecendo a morada daquele estranho animal, com quem já convivia há tanto tempo, e dei-me conta afinal era um herbívoro. Afastei-me um pouco, por algum motivo acho que companhia para quem come só pode ser alguém que coma também. O descampado, sob o vento que começou a soprar, parecia uma campina distante, ampla, o balanço dos ramos dos arbustos adquiriu ritmo, lembrei-me das savanas na África. Já entrevia uma zebra ao longe, e de repente um sobressalto: era o Grifo me chamando. Vamos ver a máquina, disse; o arrabalde de repente me pareceu comum, desolado. Segui o Grifo.