26 de novembro de 2008

Ars antiqua

Escandindo essas palavras por aí, meu caro, ars antiqua, demodê, o negócio agora é outro, é nem-sei-mais-o-quê.
Personagens, enredos, tramas complicadas, é um trabalho sem tamanho, e pra que? Balzac, meu amigo, não passa em nenhuma tevê. Ninguém tem mais tempo para a personalidade que se desfia ante os olhos, a angústia e o burnout da psique são a luz em volta da qual a mariprosa se esfalfa outra e outra vez. O encanto e o enjôo do vazio fazem saudar o Regresso dos Deuses. Virá? Qualquer esperança é ânsia, disse-me alguém; talvez sejam impulsos desordenados do meu cérebro. Recomendaram-me um banho psico-químico.
Restou da aurora rosidactila um folheto sobre um curso na Universidade de Tulsa, On Homeric Licks. Bom, isso é uma coisa que ao menos se pode usar, como diria minha vó.

24 de novembro de 2008

Extração de sumos

Com uma prensa hidráulica pensei certa vez em extrair sumos, resumos de obras grandes que me desanimam só de olhar. Tenho lá escondido em meu barraco n-ésimos volumes da Summa Theologica, a gente pôs em pilha e baixou a prensa em cima. O caldo recolhido é o extrato mais puro daquele papelório. O suco era escuro, espesso, parecia purê de beterraba, mas sem nenhum açúcar.
Outros calhamaços terão sabores diferentes. Em busca do tempo perdido imagino que tenha sabor de água de laranjeira, amêndoas, madeira e panos velhos; a Comédia deve lembrar carne cozida, vinho e azinhavre. Desconfio que do Código Civil extrairíamos um xarope com gosto de óleo de rícino, ferro moído e tomate.
O Ênio pretende extrair o sumo da Constituição Federal, ele diz que Se prenssássemos a Constituição extrairíamos um sabor fantasia de democracia, igualdade e justiça social, flavorizados idênticos ao original. O problema, caro Ênio, é que o livro é fininho, adptar-se-ia mal à minha prensa hidráulica. Mas a gente poderia pensar em fervura, ou outro método para extrair o sumo.

14 de novembro de 2008

Os Narizes


13 de novembro de 2008

Engrama

O traço que não se apaga
anula o gesto de quem o traça.

10 de novembro de 2008

GGRRyphus

O Grifo, grogue, esgravata grêmios e grateia a verga grelos e grutas esgrouvinhadas, esgrafejando gregotins e gregueus; grenado, grimpa, egrégio, e agraúda-se graças à grei. Grimpa grumos e grupiaras engrenado - engrimponado, logra engriguilhar-se, a engrifar grutungos. O grosso agravado, engrampa; grazosa grátis, graxadela granfa, ogro Sigrido segreda-se segrel: congregados, transgridem grades e progridem a graúdos agros aos gritos.
Agrupados, grogues, esgravatam grêmios e grateiam a verga grelos e grutas...

7 de novembro de 2008

A Galinha de Mato Grosso

Impõe-se que seja feita justiça. Devemos, nós, o povo brasileiro, homenagear o Supremo Magistrado da Nação com a alcunha de A Galinha de Diamantino, uma láurea merecida pela sua atuação incansável a serviço do Império da Lei, inclusive despachando Habeas Corpus a deshoras na penosa solidão da praça dos três poderes.



Com isso, será feita justiça a essa figura já histórica; outros juristas receberam alcunha enobrecedora, de feição ornitológico-locativa, como o pretensioso Águia de Haia, com menos méritos, ou iguais; maiores, nunca!



imagem: ars pauperrima

5 de novembro de 2008

Monteiro Lobato, profeta brasileiro

Cumpre-se mais uma profecia de Monteiro Lobato com a eleição de um negro para a Presidência dos Estados Unidos da América do Norte. Improváveis leitores, lembrai-vos do romance "O Presidente Negro", sobre o qual escrevinhei faz uns meses.


Lá estão antevistas a eleição de Barack Obama, o feminismo e a internet, por exemplo. Ufanemo-nos, então; Asimov era fraquíssimo, Júlio Verne bobalhão, Monteiro Lobato é que foi porreta, minha gente.

Outra profecia dele que se realizou foi a do petróleo, apesar da Standard Oil.



3 de novembro de 2008

Aula de dactilographia

Escrevei com os dedos, meus amigos, em teclas avessas ao toque, feitas dum plástico duro e opaco; os caracteres já apagados só podem ser lembrados pela mão insone, asdfg, asdfg, poiuy, qwert, mão insone que vira o carro com o rangido descontente do metal, e lá fora o mundo, os ônibus expiram no asfalto de sono suor e sombra.