26 de fevereiro de 2011

Choro Novo

Hoje é dia de fazer um choro novo
em que cantem em coro raivoso
as notas que deixaram de soar
nas requintas da manhã, na praça da matriz;
Que dancem em trejeitos esquálidos
os loucos, os velhos e os tarados;
que passem a uivar os cães
e haja assim como um pressentimento,
uma nuvem escura carregada por um vento
súbito, forte e tempestuoso;
que o choro não seja essa música divertida,
bucólica, alegre, essa nostalgia,
dum tempo que ninguém sabe,
mas a música solar da madrugada,
o silêncio do balanço das taquaras,
contraponto ao rumor das avenidas.

11 de fevereiro de 2011

Por uma manobra nojenta, o governo de S. Paulo quer dar uma montanha de dinheiro público ao consórcio inepto que abriu a cratera na marginal Pinheiros, na obra da Linha Amarela, para tocar a obra da chamada linha Lilás.
Ornato urbano - o colosseum paulistano
Que bom!
Como foi conveniente a "descoberta" de "indícios" de "alguma coisa" na licitação da linha Lilás, nunca esclarecida. Aliás, uma auto-denúncia. Permitiu que, agora, o governo encontrasse a solução luminosa das PPPs.

9 de fevereiro de 2011

Fobia

Fobia
de andar por aí
de conversar no elevador
de dizer o que não devia
da amizade insincera dos corredores
da mesa ao lado
sobretudo dos vizinhos
ah esses sorrisos viciados, abertos a faca
dentes a mostra, nostalgia da mordida
com que nos brindam
de dia e de noite
os importunos cidadãos de bem
que nos acompanham na calçada
que por um acaso nos encontram
que pululam nas ruas dessa cidade
como num deserto, as formigas
cuja presença não consola, são antes pequenos tormentos
atrozes, e nós auscultando
o céu, a procura das aves
ou do esquecimento do mar, mas antes
temos de cumprir um compromisso,
responder uma mensagem, percorrer a rua Direita mais uma vez
mais uma vez torcemos em segredo
por aquelas catástrofes de filmes, por que não agora
um meteoro, um monstro horrendo ou qualquer bestialidade
não anula tudo, não sepulta a cidade de uma vez?
Logo se vê, horrível não é o fim instantâneo
- mas a continuidade desses ritos, desses tipos incessantes,
desses mecanismos de controle que se sucedem
num enjôo duma febre desmemoriada
dessa água muda que não corre de regatos
engarrafadas em corredores desnudos
que se escondem sob a terra
debaixo de trincheiras de metal.

7 de fevereiro de 2011

Arquivo antigo

Direto do F2, na época bebê de colo.
E o tio Zezé, com quem faltou conversar muita coisa.
Ao fundo, o tempo e suas pirâmides

4 de fevereiro de 2011

O catador de pulga

De vez em quando eu cato pulgas, vício antigo adquirido quando trabalhei com revisão de textos. A gente repara que esse trabalho hoje deve ser um luxo nas redações, e quem escreve tem cada vez menos intimidade com o vernáculo.
O tradutor do Google também deve ser bastante empregado, conforme se vê abaixo:

"O site do jornal Whashington (sic)Post sugeriu que não só o serviço de e-mail foi cortado, como toda a conexão do local. De acordo com a publicação, oficiais desciam as escadas para se encontrar em vez de usar o e-mail e discutir - como normalmente fariam. O site ainda disse que até o serviço de e-mail do BlackBerry do presidente Obama teria sido cortado. Segundo uma fonte ligada ao presidente, parecia "um dia de neve", em que ninguém podia trabalhar direito."


Veja aqui. Os oficiais do texto, em português, devem ser militares graduados. Funcionário é coisa de brasileiro, um pouco sem vergonha, a corrupção, enfim, quem lê as colunas do Jabor deve achar até melhor oficiais, quem sabe a milicagem acaba com essa pouca vergonha.