3 de outubro de 2011

A máquina paródica do Grifo - VIII

Sim. Ainda persiste a série interminente da máquina paródica de O Grifo. Nem nós sabemos a razão de tanta persistência. Cartas para a redação.

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Dah, unhgs, eram monissílabos que o homem soltava entredentes, com esforço, com raiva. Iluminado pela única lâmpada pendurada no teto por um fio, via o suor em seu rosto cada vez que passava pela luz fraca, andando de um lado para o outro na sala vazia e sem graça.
Eu me sentava em uma cadeira metálica. Soube que devia esperar o que aquele sujeito,  impaciente pelo jeito, iria dizer. Andava e andava mastigando seus dentes, na frente de uma parede de blocos, tijolos aparentes, as sombras da pálida lâmpada projetavam-se nos lados da parede. O nervosismo daquele inquisidor por algum motivo me deixava calmo, não vi motivo para inquietação. Até que ele berrou, de repente a cara vermelha, com as duas mãos apoiadas na mesa à sua frente:
- O que vocês fizeram??!!
Intrigavam-me os olhos a saltar das órbitas, a qualquer momento os globos poderiam pular, vivos; depois do berro, um silêncio, vi à minha direita um pássaro bater asas na gaiola. Engraçado. Não tinha percebido ele ali.
Mas estava tranquilo, estranhamente; o bater das asas do pássaro confirmava que tudo andava bem. Levantei-me, como quem explica, de boa vontade, como um otimista incorrigível, e expliquei para meu acusador boquiaberto, arfante:
- Mas, o que foi que eu fiz?
Pareceu incrédulo, e sua incredulidade o encolhia ante meus olhos.


Continua...

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