8 de janeiro de 2009

Por aí, bundando


Então, numa dessas soube que bunda é de origem banto. Beleza de vocábulo, bunda é único, e é nosso; em Portugal o cru cu, meio brutal. Bunda não, palavra macia, arredondada, escandida com o mesmo prazer tátil de tocar uma bunda. Aliás, gesto pleno de sentidos, faz falta um estudo que revele inteiramente a amplitude cultural de passar a mão na bunda.

Tenhamos pena dos pobres termos estrangeiros, secos traseiros, buracos, atrás; só a gente tem a legítima bunda na imaginação, no léxico; não tenham dúvida de que é por isso que no Brasil abundam as benditas bundas, bamboleando e bulindo; não falemos da moça cuja bunda ganhou prêmio, que isso de bunda laureada, de vitrine, é um legítimo cu. A bunda sacrossanta e gostosa é a da rua, da praia, de todo dia.

Um comentário:

A mercadora de livros disse...

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda
Carlos Drummond de Andrade